Porque é que a entrevista de seleção é um teste tão pouco fiável? Explicamos-lhe um pouco.
Há algumas semanas, faleceu nos EUA Daniel Kahneman, investigador em ciências sociais, psicólogo, Prémio Nobel da Economia em 2002, uma autoridade na análise da tomada de decisões e uma pessoa de grande influência na esfera económica pelas suas contribuições sobre a forma como tomamos decisões.
O que Kahneman demonstrou, de forma simples, é como a nossa mente nos engana ou gera ilusões enganadoras através de certas intuições. Kahneman actualizou um termo clássico da psicologia, o efeito Halo, que se refere à forma como a impressão que temos de uma pessoa que vemos ou com a qual interagimos pela primeira vez se sobrepõe às impressões subsequentes que dela recebemos.
Esta impressão, que pode ser positiva ou negativa, baseia-se na nossa intuição e não é de todo racional.
Seleção de Pessoal e o Efeito Halo
Controlar o enviesamento que o Efeito Halo representa para um avaliador é fundamental para reduzir os riscos de julgamento que podemos fazer sobre um candidato numa entrevista. E não é fácil.
É por isso que sempre dizemos que a entrevista é (ou deveria ser) apenas mais um teste que não deve representar mais do que 10 ou 15% do peso total da decisão num processo de seleção.
Fazer processos de seleção centrados apenas numa entrevista e numa olhadela ao CV é uma prática suicida, pelos riscos óbvios para qualquer organização de incorporar pessoas na empresa sem o devido rigor.
Nunca tomaríamos uma decisão de investimento financeiro importante sem análise. Por outro lado, trazemos pessoas para a nossa empresa, que são um investimento económico, com uma entrevista e pronto.
Porque é que fazemos isto? Porque nos sentimos infalíveis devido ao nosso excesso de confiança na nossa intuição, no nosso raciocínio rápido, como diria Kahneman; e, há que dizê-lo, devido a uma certa preguiça analítica.
É por isso que, para garantir o sucesso e minimizar, tanto quanto possível, o efeito Halo, é tão importante realizar testes complementares quando se realiza um processo de seleção.
Mesmo os entrevistadores mais experientes não têm facilidade em controlar o Efeito Halo. Mas saber que ele existe e como lidar com ele é essencial para a tomada de decisões.